A barbárie já começou
Publicado originalmente no Monitor Mercantil Digital, acessado em 04/03/2016.
Vivemos uma das maiores ofensivas do capital em toda a
história, quiçá a maior, por todo o planeta. Acuada por uma crise
internacional sem precedentes, diante de uma inédita crise sistêmica
completa, como afirma o professor Edmilson Costa, a burguesia agride os
trabalhadores e os povos nos cinco continentes, sem distinção.
O desespero da elite é tamanho que sua faceta mais hedionda, o
fascismo, já se manifesta claramente, tendo inclusive chegado ao poder
sem qualquer disfarce na Ucrânia. Sua outra faceta extremamente
conversadora, a tradicional ditadura, mantém o poder na Arábia Saudita, o
principal comprador de armas em nível internacional, aliado aberto dos
EUA e Israel na desestabilização do Oriente Médio.
Recentemente, os conservadores venceram as eleições em Portugal, o
Sryza tirou a máscara e adotou a política preconizada pelo Troika, sua
faceta espanhola, o Podemos, ilude aquele povo se apresentando como a
principal “oposição” ao capital, os países mais ricos, como França,
Inglaterra e Alemanha, há muito vivem sob o domínio da parcela mais
avançada do capital financeiro internacional. O banco Goldman Saches
predomina na Europa.
A África segue sua sina histórica de maximização da exploração, com
seus povos pagando os lucros do capital com sangue, vidas e lágrimas. A
cultura mais antiga do planeta, o berço da Humanidade, sofre por suas
riquezas naturais e proximidade com a Europa e os EUA.
Até mesmo o povo dos Estados Unidos, núcleo central do capitalismo, é
vítima da violência, do desemprego e da miséria nunca dantes
vivenciados, superiores a crise de 1929.
Suas garras alcançaram a América do Sul, nos últimos 20 anos o
principal polo de desenvolvimento das forças progressistas em nível
mundial. Tomaram o parlamento na Venezuela, impediram novo mandato de
Evo Morales na Bolívia, derrotaram o sucessor de Cristina Kirchner na
Argentina, fecharam um acordo com Cuba para tentar reduzir sua
influência e esconder seus reais objetivos de destruição do socialismo
na heroica ilha.
O Brasil não foge da sina internacional. Aquele que um dia cantou
“verás que um filho teu não foge à luta” tem um governo submisso ao
capital, ainda ludibriando os trabalhadores e tentando chegar ao final
do seu mandato, por mais que seja aos trancos e barrancos. Seu objetivo é
alcançar 2018, na expectativa de seu líder messiânico reverter a crise e
aplacar a ira popular. Como se isso fosse possível com tamanha
subserviência ao capital.
A falsa oposição cresce diante da inviabilidade de continuidade do
projeto da aristocracia operária, outrora menina dos olhos da burguesia.
Face a necessidade de crescimento sistemático dos seus lucros, a
burguesia aposta suas fichas no projeto que permite acelerar a entrega
das riquezas nacionais e aviltar, ainda mais, os direitos dos
trabalhadores.
É nesse contexto que se dá a entrega do pré-sal para as
multinacionais, o enfraquecimento da Petrobras, a privatização da
Educação e da Saúde pública, a corrupção desenfreada, a reviravolta nas
terras indígenas, a agressão ao meio ambiente (vide usina de Belo
Monte), os assassinatos dos jovens negros mais carentes pelas polícias
militares, a liberdade da Samarco e da Vale, a inocência de FHC,
Alckmin, Aécio etc. Nunca os bancos lucraram tanto em solo pátrio.
Os aspectos sociais da crise sistêmica se fazem sentir de forma
inaudita, atingindo diretamente a população conforme demonstra o corpo
daquele menino imigrante na praia, um cadeirante palestino ser agredido
pelo exército israelense, o roubo da merenda escolar de crianças
carentes, os indígenas brasileiros bombardeados por agrotóxicos a mando
dos ruralistas, os povos do continente-mãe morrerem de fome e tantos
outros crimes impunes se multiplicarem pelo planeta.
Barbárie ou socialismo? Já estamos na barbárie. Em seu início, mas é a
barbárie. Daí vermos inúmeras reações dos trabalhadores, das
comunidades, dos indígenas etc. Apesar disso, é preciso radicalizar e
ampliar as lutas, resistir, garantir os direitos e alçar novas
conquistas.
Está na hora de romper as amarras e aproveitar a oportunidade histórica que se nos apresenta.
Afonso Costa
Jornalista.
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